Estresse de Minorias: algo que ninguém te contou sobre a vida fora do armário #PRIDE

Pense em algo sobre você/sua personalidade que é muito importante na sua vida.
Agora feche os olhos por alguns instantes e tente imaginar momentos importantes e triviais onde você tivesse que suprimir essa característica.
Agora, imagine que se você externalizasse minimamente essa coisa que você imaginou, você pudesse ser constrangid@, humilhad@, agredid@ ou até mesmo assassinad@...

Imaginou?

Complicado, né?

Agora, calma... respira fundo um pouco pra gente continuar essa papo numa boa.

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Na semana do dia dos namorados, eu criei um formato especial tipo um programa de rádio antigo, em que as pessoas poderiam mandar recado e uma musiquinha para uma pessoa, bem no formato Love Songs, sabe?
Quando eu parei para gravar um recadinho para o Sander -sem planejar ou pensar o que diria-, eu comentei que, apesar de a gente não demonstrar afeto em público, a gente tem um universo todo nosso, com nossos próprios códigos.
Nesse recado, eu também mencionei que a gente não andava de mãos dadas em lugar nenhum, por medo; em seguida, eu recebi várias mensagens de pessoas comovidas com isso ou mesmo de outras pessoas relatando sentirem o mesmo medo e o assunto não parou de reverberar na minha cabeça, porque sim, é fato: mesmo em lugares onde poderíamos demonstrar afeto (tipo baladas), a gente se sente um alien, e isso só me fez compreender que, na verdade, nossa casa é uma gaiola, e que isso só demonstra que a gente ainda não pode voar livres, sabe?

Isso não vem do nada.
É resultado de toda uma vida suprimindo o que a gente sente, recebendo descargas nervosas absurdas quando alguém abria a boca para soltar a infame frase que todo gay já ouviu e temeu em algum momento: "posso te perguntar uma coisa?".

Dias depois do episódio do recadinho, durante uma live do Pedro HMC, vi a drag Ikaro Kadoshi falar sobre essa matéria no Huffpost, na qual o cientista canadense Travis Salway aborda algo até então "desconhecido" por mim: o estresse de minoria.

A minha surpresa foi que, apesar de desconhecer o termo, o estresse de minoria já é um conhecido de longa data -o que ia ficando mais claro à medida que Ikaro falava sobre como homens LGBTs carregam consigo características de estresse pós-traumático equivalente ao que teria se tivesse voltado de um campo de batalha durante uma guerra.

Segundo o professor do Departamento de Saúde Pública da UFSC, Rodrigo Moretti, estresse de minoria (lembrando que minoria não é sobre números, mas sobre poder -logo também não é apenas sobre LGBTs, mas sobre mulheres, pessoas negras etc etc) "refere-se aos níveis cronicamente altos de estresse enfrentados por pessoas de grupos minoritários estigmatizados.
Pode ser causada por vários fatores, incluindo baixo apoio social e baixo nível socioeconômico, mas as causas mais bem compreendidas do estresse de minoria são interpessoais e referem-se diretamente ao preconceito e à discriminação", e eu quis trazer esse assunto como pauta porque é uma questão muito importante, de saúde mesmo.

Traduzindo em miúdos: todo o estigma sexual negativo com o qual a gente tem que lidar a vida toda (junto com a exposição às diferentes formas de preconceito e agressão, que variam de expressões faciais e distanciamento físico a atos de violência) nos colocam em situação de maior vulnerabilidade para o desenvolvimento de transtornos mentais como depressão, ansiedade, estresse, ideação e tentativa de suicídio -e não tem como a gente falar sobre isso sem mencionar que ainda existem lugares onde existe pena de morte para pessoas LGBT (você pode conferir nesse mapa da Associação Internacional de Gays e Lésbicas), por exemplo... 

Outro ponto que não pode ficar de fora numa pauta como essa é uma volta no tempo para lembrar que toda essa perseguição que tanto nos gera dor e traumas vem de longa data: a homossexualidade é tão antiga quanto a história da humanidade e sempre esteve presente em diferentes sociedades e culturas, mas foi apenas em 17 de maio de 1990 que a homossexualidade deixou de ser considerada doença mental.

Antes disso -segundo informações trazidas direto da dissertação de mestrado em psicologia sobre Estresse de Minoria, Fatores Familiares e Saúde Mental em Homens Homossexuais da Priscila Lawrenz, da PUCRS-, a homossexualidade esteve associada a referenciais negativos e nocivos como Psicopatia do Sexo (o neurologista alemão Richard Kraft-Ebbing publicou, em 1886, uma obra sobre essa abordagem), transtorno de personalidade, transtorno de identidade sexual e toda a intolerância que veio junto com a epidemia do HIV/Aids (apelidada pela sociedade de câncer gay) -e eu tô aqui pra te lembrar que não é porque eu fui abusado sexualmente na infância ou mesmo por não ter crescido com presença paterna que eu sou um homem gay: estamos falando de algo existencial e não de um sintoma -e a gente precisa reforçar isso o tempo todo para não regredirmos nessa luta e para lembrar que eu e meus  semelhantes não precisamos de tratamento nem de oração ou cura, pois, quanto mais naturalizarmos essas questões, menos pesada se torna a nossa existência, tanto internamente quanto com as coisas que a gente tem que lidar também do lado de fora, todos os dias.

Os estudos sobre estresse de minoria já rolam há alguns anos no Canadá e nos EUA, por exemplo, e, apesar de bem recente e pouco difundido aqui no Brasil, é através dele que podemos entender como tem mais homens gays morrendo por suicídio que pelo vírus HIV nos últimos anos no Canadá segundo essa entrevista com Travis Salway, por exemplo.

Quando, no mesmo momento em que eu buscava informações sobre tudo isso, viralizava nas redes sociais o vídeo de Vinícius Gama contando que havia sido agredido com seu companheiro dentro das Lojas Renner em um Shopping próximo à minha casa na semana do dia dos namorados (não deveríamos estar celebrando o amor?), meu cérebro me diz de forma mais intensa que eu não posso andar de mãos dadas nem dar um beijo no meu companheiro de vida na rua porque poderíamos ser nós dois ali na mesma situação, que isso pode ser a causa da nossa morte, e foi por isso que eu resolvi chamar algumas pessoas da comunidade LGBTQIA+ para conversarmos sobre como é viver sempre à margem do medo.

Pensei em fazer isso porque tenho majoritariamente seguidoras mulheres e particularmente, mães, que me enxergam como uma referência para comemorar uma festa do seu/sua filh@, por exemplo, e uma coisa não se separa da outra: tudo o que você vê aqui na internet como resultado do meu trabalho é também resultado das minhas vivências como LGBT e como eu enxergo o mundo.

Eu acredito muito na sensibilidade de vocês para ouvirem cada um dos depoimentos e pensarem no que pode ser feito no dia-a-dia para tornar o mundo um lugar menos cruel com a nossa comunidade -e quando eu falo comunidade LGBT, eu não tô falando apenas dos esteriótipos que habitam nosso imaginário enquanto sociedade... a gente precisa pensar, entender e respeitar o fato de que as questões de gênero estão presentes na nossa vida em todas as fases, portanto precisamos proteger e criar um ambiente digno e seguro para crianças, adolescentes e idosos LGBTs que em muitos casos não têm apoio familiar, não têm direito a um nome, a uma casa e a itens de necessidade básica como alimentação, educação e saúde.

O centro desse papo que vai acontecer ao longo dos próximos dias/semanas é a conclusão à qual cheguei recentemente quanto à "saída do armário": quando mais novo, eu achava que sair do armário seria a solução de todos os meus problemas, já que eu imaginava que, dali pra frente, eu não sentiria mais aquele medo absurdo de ser descoberto e abandonado quando, na verdade, o que acontece depois é que você descobre novos medos que vêm junto com a necessidade de sobrevivência.

Essa conversa vai acontecer entre pessoas com perfis bem distintos porque é muito fácil a gente aceitar/digerir o que se aproxima das coisas que já fazem parte da nossa vida e com as quais a gente já se identifica (é natural pra você ver meu conteúdo colorido e editado no seu feed, por exemplo, sem nem pensar muito sobre isso), mas precisamos também abrir espaço para quem está fora da nossa curva de realidade.
Você consumiria o conteúdo de uma travesti com o mesmo respeito que consome o meu, por exemplo?
Se sim, ótimo.
Se não, vamos aproveitar esse momento para sairmos, juntos, da nossa caixa, da nossa zona de conforto, colocando a cabeça para fora da janela para entender que existem muitas causas precisando gritar por sobrevivência.

A primeira parte desse conteúdo é com a participação da minha amiga Larissa Vaiano, que se descobriu bissexual aos 30 anos e que publicou semanas atrás esse vídeo lindo e muito sensível no youtube, falando sobre como ela sente medo de ser LGBT.
O vídeo dela me inspirou a pensar nesse conteúdo, coincidiu com a live do Pedro e aqui estamos:

A Lari tem um conteúdo incrível e se você quiser acompanhar a série Manu, é só clicar aqui para ver a primeira temporada e aqui para ver a segunda.
Muito obrigado pela disponibilidade em dividir sua história com a gente, Lari. Love U

A gente vai dar, sim, uma pequena pausa nos conteúdos de festa, de decor e tutoriais por uma causa muito nobre e de extrema importância pra mim, e eu te convido a ouvir essas diferentes vozes com a mente e o coração abertos para que, também nesse aspecto, a gente possa juntar nossa criatividade, nosso amor e nossa inspiração para tornarmos o mundo um lugar mais acolhedor e colorido para que todas as formas de amor possam florescer.

Por hoje é isso...
Obrigado pelo seu apoio.
Não deixe de compartilhar esse conteúdo para que a mensagem chegue em outras pessoas.
Bjs do Math e até a próxima!

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