BILHETE


Eu ensaiei várias vezes um começo para esse que, de longe, é o post mais difícil que eu já escrevi até hoje.
Difícil porque me faz mexer em coisas que, mesmo tendo acabado de passar, ainda doem e geram incômodo, até porque isso vai contra o meu movimento atual de concentrar energias em virar a página e tocar a vida adiante.

Mas eu sempre gostei tanto desse espaço, de tudo o que ele permitiu, gerou e de como ele é um registro aberto para o mundo da minha evolução, da minha busca por me tornar um humano melhor.
E é também por isso que dói: por eu ter constatado que, como ser humano, eu falhei nessa busca -e sim, eu tenho dificuldade em aceitar falhas vindas de mim mesmo...

Dei voltas demais, pensei mil vezes em como começar o texto que eu me sentia obrigado a escrever (tanto para dar satisfações às pessoas que me acompanham, sentiram minha falta e se preocuparam comigo quanto para que eu mesmo pudesse reler quando eu estiver precisando colocar os pés no chão de novo, no futuro) e mesmo ainda estando bem desconsertado aqui na frente da tela, eu queria começar parafraseando uma parte de "Bilhetes", do Tiago Iorc, que ouvi dias atrás durante meus passeios matinais com o Sushi:

Tem dias que parece que não vou conseguir
O medo me persegue, me impede de sentir"
Antes de qualquer coisa, eu queria deixar claro que não vou entrar em detalhes específicos sobre diagnósticos por não me sentir a vontade para falar sobre isso (ainda) e porque, no fundo o que importa aqui não é o que eu tive, mas o que aprendi com toda essa fase cheia de transtornos, dores e muito aprendizado.
Sei que posso contar com a discrição e o apoio incondicional de vocês e, desde já, agradeço.

Prosseguindo...

Ainda no ano passado, eu tomei a decisão de dar um gás na minha vida profissional, na tentativa de impulsionar meu trabalho através de novos aprendizados e de uma jornada mais intensa.
Até aí tudo ok, tirando o fato de que em nenhum momento, eu cogitei que isso poderia ser prejudicial se não viesse acompanhado de alimentação saudável, repousos para o ócio criativo e, porque não, acompanhamento profissional e terapêutico.

O que aconteceu foi que, como resultado dessa escolhe equivocada e da tentativa de abraçar o mundo, meu corpo entrou em colapso...
Ainda em maio, quando produzi os editoriais de festas juninas e dia dos namorados, o primeiro problema de saúde já havia aparecido e, por pura negligência e medo de perder o timming e os prazos loucos e absurdos da internet, algoritmos e afins (ninguém quer perder relevância, né), eu adiei a ida ao médico por um mês e só fui quando estava sentindo dores insuportáveis em vários pontos que não me permitiam dormir, sentar ou andar em paz.

Fui a vários médicos especialistas de uma vez só, com vários problemas acumulados, gastei muito dinheiro com remédios e depois de muito esforço, disciplina e quase nada de melhora, o que era apenas físico virou ansiedade e uma tristeza profunda por não conseguir fazer qualquer coisa além de ficar trancado em casa tomando medicamentos...

Após dois meses de tratamento -em que vários outros problemas de saúde surgiram como reflexo de imunidade baixa- com dores e incômodos diferentes se acumulando pelo meu corpo e com o emocional cada vez mais fragilizado, assistindo algum vídeo no youtube, eu ouvi algo tipo
A ciência só não consegue ser mais efetiva na cura do ser humano porque nos enxerga apenas como corpo físico, desconsiderando que temos alma e emoções"
e isso, entre outros fatores, me fizeram buscar uma reconexão com a minha espiritualidade, que estava totalmente abandonada -e ajuda profissional para lidar com a instabilidade emocional que tava rolando.

Mesmo com muita dificuldade até mesmo para ir à terapia, esse retorno, juntamente com a reconexão com a espiritualidade  me ajudaram a acalmar e refletir melhor, percebendo que eu precisava fazer essa jornada de outra forma, redefinindo minhas prioridades e dando mais valor às coisas simples que já estão aí, como um presente da vida pra gente, que o dinheiro não compra nem substitui -como o carinho da minha mãe, que parou a vida semana após semana para vir me fazer companhia e cuidar de mim.

O reviravolta da história se dá quando, já fora da internet a semanas por questões emocionais, depois de uma breve melhora e num momento mais "zen", eu tive novas crises de dores que me fizeram perceber que o tratamento não tava dando certo e eu me vi tomado por um medo paralizante que tomou conta de cada parte de mim e me fez questionar se as coisas dariam certo mesmo...

Entre crises de dor e de choro, depois de dois meses de tratamento -correndo contra o tempo para que os problemas não se agravassem e se tornassem crônicos-, fui atrás de um terceiro especialista, descobri que os diagnósticos anteriores estavam errados e comecei de imediato um tratamento com doses gigantescas de antíbióticos -que finalmente deu resultado e me permitiu voltar, aos poucos, para as minhas atividades.

Daí pra frente, as coisas foram voltando, se alinhando e os aprendizados continuam, já que agora o maior desafio é retomar a vida de forma mais equilibrada, priorizando principalmente a minha saúde, física e emocional.

Confesso que ainda estou confuso sobre o meu papel aqui nesse lugar chamado internet;
Eu amo o que fiz até aqui e tenho vontade de prosseguir, mas honestamente, não sei exatamente como isso se materializará.
O fato é que, se eu sempre afirmei que não produziria conteúdo apenas pra tapar buraco, isso agora é ainda mais decisivo pra mim, já que eu não estou disposto a voltar ao pesadelo pelo qual passei e também não quero que vocês percam o tempo precioso que poderiam estar investindo em vocês, nas suas famílias e no que mais for relevante apenas lendo algo que não vai agregar em nada...

Eu sei que todo esse papo pode soar muito clichê, mas espero de coração que faça você refletir um pouco sobre qual tem sido a sua prioridade e, se você mesm@ não estiver em primeiro lugar, repense, até porque a conta é muito simples: se você não estiver bem, não vai conseguir tocar nenhum projeto adiante ;)

Arranje um tempinho pra cuidar da saúde física e emocional;
Cuide das pessoas que são parte fundamental da sua vida, se imponha limites e insira pontos de respiro na rotina.
Talvez isso faça, sim, você demorar um pouco mais pra "chegar lá", mas vai te garantir e evitar dores desnecessárias.

Nas próximas semanas, eu pretendo compartilhar aqui algumas coisas que consegui fazer enquanto estava offline e, também alguns pensamentos e dicas sobre como podemos manter um pouco mais de equilíbrio na nossa rotina com mudanças simples de comportamento -que tem dado certo pra mim e espero que possam servir para vocês também.


E pra finalizar, mais uma parte da mesma música do Tiago Iorc:
E se caso for
eu posso esperar a chuva passar
pra tudo RECOMEÇAR"



Bjs do Math, obrigado pela companhia e até a próxima!

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