FASHION: Bate papo com a Estilista Fernanda Ferrugem


É tarde de sábado ensolarado. Eu chego ao Espaço Ferrugem e, para entrar, toco a campainha.
Isso  me dá a sensação de estar chegando à casa de uma amiga.
Ao entrar, encontro Fernanda, que está vestindo um camisão preto com uma legging de estampa predominantemente rosa e atendendo uma cliente.
Ela me recebe com um sorriso, pede gentilmente para que aguarde e me deixa à vontade para ver as peças de sua última coleção desfilada no Capital Fashion Week e conhecer o espaço reservado ao brexó e ao salão de sua irmã, que funcionam no andar de cima do espaço.
O vintage é uma influência fortíssima em todos os cantos, e o som ambiente fica por conta de SIA.
Confiro atentamente as roupas da coleção expostas, as peças do brechó (fiquei apaixonado por um cap estilo militar retrô), e, alguns minutos depois, estou de volta ao andar de baixo, para bater um papo com ela que, além de estilista, é mãe de dois filhos e me surpreendeu ao contar que anda de metrô e que nunca fez faculdade de moda!
Criativa, divertida, inteligente e preocupada com a sustentabilidade: esta é Fernanda Ferrugem, e você conhece um pouco mais sobre ela a seguir, num bate papo exclusivo sobre sustentabilidade, moda, infância, a carreira de estilista e a próxima coleção!

(Espaço Ferrugem)

MATHEUS FERNANDES: Fernanda, me fala um pouco sobre a sua paixão pelo retrô!
FERNANDA FERRUGEM: Minha última coleção, Descobrindo Sharon, conta um pouco sobre isso; Quando eu era criança, uma das minhas brincadeiras preferidas era brincar no guarda-roupas da minha tia, que era uma mulher super moderna! E minha mãe sempre teve  um ateliê de costura... Ou seja, a moda começou pra mim nestes momentos, entre os anos 70 e 80. Essas lembranças da minha infância ficaram comigo até hoje!

MF: Quando você decidiu que queria ser estilista?
FF: Eu sempre fui apaixonada por moda, mas não encontrava nas lojas o que queria vestir; então, eu desenhava e minha mãe fazia;
Quando trabalhei como gerente na Triton, conheci o Tufi Duek, a fábrica da marca, e a vontade de criar minha própria se concretizou!
Eu propus à minha mãe fazermos algumas roupas para vender. Da primeira levada, fizemos dez peças. Eu as coloquei em uma mochila, levei na casa de algumas amigas e vendi todas!
Eu não perdia nenhuma oportunidade! Fiz até desfile em chá de bebê...
Depois, comecei a participar do BSB Mix, e continuei participando por 5 anos.... No começo, eu tinha vergonha de dizer que era estilista alternativa, que não tinha feito faculdade...

MF: Você não fez faculdade? 
FF: Não, não deu tempo! (risos).


MF: Mesmo assim, tudo o que eu já li a respeito da sua marca, são críticas positivas e elogios. Até o site Chic, da Glória Kalil já publicou matérias falando bem do seu trabalho e de como você é uma referência no cenário da moda brasiliense. Como você se sente em relação a isso?
FF: Eu amo o que faço, e tenho muito prazer em fazê-lo, principalmente desfile! Por mais trabalhoso e competitivo que seja o mercado, então, é muito gratificante.

MF: De onde vem suas inspirações e referências para criar uma nova coleção?
FF: Mais das ruas do que da moda em si! Eu não dirijo, então, ando muito de ônibus e de metrô, e o que eu vejo na rua me influencia muito! Eu observo coisas que ninguém dá importância... Ilustrações de livros, filmes... Tudo serve de inspiração.

MF: Quando cria a coleção, você pensa que ela deve ser mais comercial ou conceitual?
FF: Ambos! Eu acredito que o conceito e a linguagem comercial devem estar lado a lado.
Não dá pra criar uma coleção só pensando "eu quero vender". As roupas podem ser bonitas e conceituais! Mas ultimamente, tenho pensado em fazer peças mais comerciais, e a minha próxima vai refletir isso!

MF: Onde você cria as peças?
FF: Em qualquer lugar! Carrego um caderninho sempre comigo. Às vezes, quando estou no metrô, vem um insight, e eu faço um rabisco... (risos)
Mas gosto bastante de desenhar na varanda da minha casao, onde tenho um painel de referências e anotações.
Minha mãe (Rosângela, sócia de Fernanda) é quem faz a modelagem, e às vezes contribui no processo criativo. A nossa cabeça não para. Pensamos o tempo todo em coisas novas!


MF: Você faz alguma preparação antes dos desfiles?
FF: Não. É uma loucura! (risos)
As peças são confeccionadas aqui, e esse processo geralmente começa cerca de três meses antes do CFW. Mas o ateliê é pequeno, e temos que conciliar a modelagem das peças que serão desfiladas com a confecção da linha de festa e vestidos de noiva. Eu não posso parar uma em função da outra, então, vira correria pura!



MF: As peças são vendidas da forma como são desfiladas ou faz alguma adaptação antes de disponibilizá-las para venda?
FF: As vezes, eu faço! Nesta última coleção, não fiz nenhum.

MF: Como você faz a seleção de modelos para um desfile?
FF: A modelo tem que ter a cara do que precisamos para o desfile. Na última coleção, por exemplo, queria modelos com cara de boneca... Mas já aconteceu de selecionarmos uma galera que não era modelo também... É algo que realmente varia.

(Espaço Ferrugem)

MF: Quem cuida do styling da marca?
FF: É o meu amigo, Raoni Vieira. Nós temos uma ótima sintonia...
Ele entende as minhas vontades, e sempre traz uma referência ou uma idéia que amarra a história, que soma...


MF: Qual o seu tecido ou material preferido?
FF: Eu gosto muito de malha...

MF: Como você enxerga a relação Moda X Sustentabilidade?
FF: As pessoas acham que o que é sustentável não tem qualidade ou não é durável. E esse olhar é equivocado!
Eu tenho atitudes sustentáveis, trago isso para a marca, mas sem planejar. Não fico procurando alternativas para que isso aconteça...
Nós recorremos ao brechó para pegar peças e tecidos para complementar a criação de peças novas, acessórios, usamos tecidos antigos que não seriam utilizados... Mas sem a intenção de chamar a atenção por promover uma causa.


MF: No final do último desfile, você entrou descalça como uma forma de protesto por não ter conseguido uma marca parceira que cedesse os sapatos. Me conta um pouco mais sobre isso...
FF: Eu acho que se a gente corre atrás, a coisa acontece. Neste episódio, houve falha da minha parte também, por ter deixado pra última hora! Com isso, eu aprendi a ser mais organizada e resolver tudo com antecedência. Principalmente em relação aos sapatos; eles são parte muito importante de um desfile, e se não tiver o sapato certo, o desfile pode ir por água abaixo.
Na coleção Revolução dos Índigos, eu fiz uma parceria super bacana com a Trilha, uma marca de sapatos local. Eles fabricaram todos os sapatos do desfile com o mesmo tecido das roupas, e fui um sucesso! Vendemos todos.
As pessoas se preocupam muito com roupa e esquecem dos sapatos... Vamos fazer sapatos também né, galera!?
MF: Qual a importância do CFW para o estilista brasiliense?
FF: É uma vitrine! Através dele, o nosso trabalho chega à outras pessoas que ainda não conhecem...
Dá visibilidade, ajuda muito!

MF: O clima de Brasília muda o tempo inteiro... Como isso impacta na criação?
FF: Eu já fiz uma coleção toda influenciada por Brasília: A Calanga.
Eu queria mostrar a minha visão da nossa cidade, e trouxe uma coleção Neo Hippie, inspirada nos jovens daqui. A coleção tinha muita influência artesanal, os cobogós, o céu, o concreto...



MF: Como é o cliente da marca Ferrugem?
FF: São pessoas que tem afinidades comigo. Uma galera que gosta de coisas diferentes, pessoas cultas e antenadas.


MF: E a próxima coleção?
FF: A próxima coleção se chama Novos Praianos. Será mais contemporânea, com mais looks masculinos, e mais comercial.
A idéia principal é verão, praia, e vai ser apresentada de forma muito simples. Tão simples que eu não posso contar, pra não estragar a surpresa!(risos)
Há um link entre as coleções de verão anteriores, trazendo tudo que eu achava complicado, e resolvi descomplicar!

MF: Qual a sua peça preferida da vez?
FF: Eu adoro a mistura de floral e franjas. O meu xodó da coleção é um vestido que traz as duas coisas.

MF: O que você pensa sobre os blogs de moda?
FF: Eu já tive preconceito, mas mudei minha visão de uns tempos pra cá. Com a internet, as informações se expandem mais rápido, e isso nos ajuda, divulga nosso trabalho.
Mas ainda há muita coisa deturpada, muita gente que não sabe do que está falando.

MF: Que recado você deixa para pessoas que querem seguir carreira na moda?
FF: Olhem à sua volta, sejam curiosos e persistentes, porque o mundo da moda é muito mais ralação do que glamour!

Nas imagens acima, alguns dos desfiles de Fernanda Ferrugem.
Descobrindo Sharon, a última foi inspirada em um conto escrito pela própria estilista e seu amigo, que começaram a imaginar uma história a partir da notícia de um assassinato. Através da coleção, Fernanda conta também um pouco da sua história e paixão pelo retrô.
Revolução dos Índigos, coleção de verão desfilada no fim do ano passado, criada a partir da leitura do livro de mesmo título, que trouxe à estilista uma nova forma de pensar e a fez refletir sobre a educação de seus filhos.
Verão 2009, desfilado no extindo Brasilia Fashion Festival. Fernanda apostou nesta coleção em peças que até hoje são atuais, tanto quanto na época em que foram desfiladas, entre elas, o peplum, forte tendência do próximo verão!

Para finalizar o post, gostaria de agradecer à Fernanda, pela atenção dedicada e deixar meus votos de boa sorte e muito mais sucesso com a nova coleção!
O Brasil te ama, Fernanda!
Aos demais, o endereço do Espaço Ferrugem está logo abaixo.Façam uma visitinha e divirtam-se!
Em caso de dúvidas ou sugestões, é só deixar um comentário, ok?



Comentários

  1. Se você nunca fez uma visita ao Espaço Ferrugem, faça essa experiência. Vai encontrar muitas coisas que se identificará

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  2. Destaco dois motivos para o reconhecimento da marca. O primeiro é que o design Ferrugem é a cara de NY. Tudo o que ela produz, mesmo sendo comercial, é urbano, moderno, nada que seja relacionado com o certinho. É descolado mesmo

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  3. Destaco dois motivos para o reconhecimento da marca. O primeiro é que o design Ferrugem é a cara de NY. Tudo o que ela produz, mesmo sendo comercial, é urbano, moderno, nada que seja relacionado com o certinho. É descolado mesmo

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  4. O outro, é a fidelização dos clientes promovida de maneira super natural pela Fefa, que atende com carinho todo mundo. Além é claro, da qualidade e do esmero com que as roupas são feitas.
    Além de formar clientes fiéis, o atendimento quase que familiar seduz os clientes

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  5. Eu sinto que o público de fora dá mais valor ao trabalho da marca do que o brasiliense.

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  6. A Fernanda realmente é uma fofa! Conhece-la foi uma experiencia incrivel, e o desijgn das roupas realmente é unico!

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  7. Talvez isso se deve ao fato de Brasília não ter essa característica de expressão da personalidade através da moda que outros centros urbanos como São Paulo possuem.

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  8. Eu amo o trabalho da Fefa e do Raoni. Eles são tão lyndos e dedicados que essa beleza exprime no trabalho

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  9. Super torço pra alguma loja de multimarcas de fora firmar parceria com o Ateliê Ferrugem.

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  10. Concordo com todos os seus comments, Diego! Opiniao mega valida!

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  11. Só posso dizer que gostei,
    e to apaixonado pela coleção de verão 2009 and 2011 !! LINDO :D

    www.estiloatrevidos.com

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