BATE-PAPO com: Daisy Carvalho e Letícia Soares, do Piquenique Design

 Elas miraram na qualidade e acertaram no sucesso: com o foco em produzir material gráfico e publicitário de qualidade, as amigas Daisy Carvalho e Letícia Soares criaram o Piquenique Design como projeto de conclusão na faculdade, e hoje colhem os frutos desta parceria que deu super certo, participando de alguns dos eventos mais importantes da cidade.
Tive o prazer de conhecer a dupla durante o processo de concepção da coleção Novos Praianos, da estilista Fernanda Ferrugem (elas criaram estampas para a coleção), no dia em que foram ao Espaço Ferrugem gravar o vídeo que seria exibido na abertura do desfile.
No dia desta entrevista, após chegar ao estúdio, poucos minutos foram suficientes para que eu obtivesse a resposta da primeira pergunta da entrevista, antes mesmo de fazê-la:
a pergunta era sobre a filosofia de trabalho do Piquenique, e ficou nítido que o sucesso do trabalho da dupla vem de um mix de cores, alegria, alto astral e muito bom humor!
A simpatia e o sorriso da dupla são, além de uma marca registrada, uma forma de deixar clientes e amigos mais a vontade e envolvidos pelo jeito Piquenique de pensar, e harmonizam totalmente com a decoração do moderno e aconchegante estúdio onde elas fazem, juntamente com uma equipe, o trabalho de pesquisa e elaboração de imagens que ganham vida nas mais diversas formas. De cartões de visita à grandes painéis, elas fazem de tudo!
Quer conhecer um pouco mais do trabalho dessas duas queridas?
Vem comigo!


Matheus Fernandes - TBS: Como surgiu o Piquenique?
Daisy Carvalho:
Nós nos conhecemos na faculdade. A Letícia é formada em publicidade, e eu em comunicação e marketing. Nós estudamos algumas matérias juntas, percebemos muitas afinidades e decidimos fazer a pós graduação também juntas, no IED (Instituto Europeo de Design), focando em gráfica e editorial. Durante este tempo, nos conhecemos melhor e fizemos o trabalho de conclusão.
Letícia Soares: E foi aí que surgiu o conceito do Piquenique. Nós observamos que em um piquenique, as pessoas levam os alimentos que melhor fazem, a toalha mais bonita, para compartilharem aquele momento. Esta era nossa primeira idéia central: reunimos uma rede de cinco artistas locais para trazerem o conceito do piquenique pela óptica deles. Teve Piquenique erótico, Piquenique "comidinha", Piquenique fashion... Pra a gente é isso: cada um traz o que tem de melhor.

TBS: Qual é o diferencial Piquenique Design?
Letícia: O que torna o nosso trabalho especial é que nós tentamos fazê-lo de forma totalmente personalizada. Viajamos fundo no conceito, fazemos sempre uma pesquisa bem ampla, que garante um resultado único!
Daisy: Com o tempo, percebemos que os clientes gostam disso e nos deixam livres para criar, pois muitas marcas não tem um conceito, e nós trabalhamos exatamente nesse ponto: fugindo do que é muito comercial, captando a alma da marca.
Sempre perguntamos ao cliente, após terminar um trabalho se eles amaram o resultado, e reforçamos: "É importante que você ame. Gostar não basta, pois esse é o visual da sua marca!".

TBS: Quando vocês descobriram a paixão pelo design? E quando decidiram trabalhar na área?
Daisy:
 
Eu fiz teste vocacional (risos), e o resultado foi positivo -disparado!- para comunicação. Eu tive dois professores muito queridos que me orientaram na faculdade, a Déia Francischetti e o André. Ambos trabalham com arte gráfica, e o contato com eles fez quem que surgissem algumas afinidades. Logo após a faculdade, fui trabalhar na área, onde já estou há 8 anos.
Letícia: Eu acho que escolhas tão sérias, como a profissão nos são impostas quando ainda somos muito novos... Eu não tenho um motivo específico pra ter escolhido Publicidade e Propaganda, mas sempre me encantei por esse universo, e sempre fui muito ligada em arte e moda. O design gráfico não está comigo desde o princípio, mas hoje, sinto-me muito satisfeita e feliz ao ver um trabalho concluído. Durante um tempo, você se sente inseguro, com medo de não dar certo (a carreira, nesta profissão), mas ao ver um trabalho pronto hoje, respiro fundo e curto o resultado...
Daisy: E a nossa área de atuação é muito extensa; Em um dia, estamos trabalhando com moda, no dia seguinte, com design de interiores ou uma vitrine... Tudo isso contribui para nos deixar mais satisfeitas.

TBS: Como vocês acham que o design interfere na vida das pessoas?
Letícia: Tudo hoje é personalizado e planejado como objeto de design: iPhone, fechadura... Coisas que fazem parte do dia-a-dia das pessoas. Mas tudo começa com o design gráfico, que é um pouco esquecido; na verdade, ele é que torna os objetos de design em grandes sucessos de venda e público.
Daisy: O design faz com que as pessoas agrupem-se de acordo com suas afinidades e vivam o real conceito de sociedade. Ter um iPhone, por exemplo, não é apenas ter um celular multifuncional. Ao comprá-lo, você está fazendo uma escolha, guiado além das funções, pelo design, pelo multi-touch e pelo status, que o coloca automaticamente em um grupo social de pessoas com interesses semelhantes.
Letícia: Isso sem citar que o design tem o poder de ultrapassar gerações (elas são apaixonadas por design de interiores, e tem um carinho especial por cadeiras/poltronhas)! A cadeira Thonet, por exemplo, foi criada em 1860 e é usada até hoje, por ser fácil de instalar, ocupar pouco espaço... Passa o tempo, e ela vem em diversas cores, com detalhes diferentes, mas é funcional, e nunca deixou de ser usada.
Daisy: A lomo, da mesma forma! Já ficou ultrapassada, e agora voltou, por ser um objeto de design. É tudo bem cíclico, como a moda...

Fotos tiradas no estúdio
Como é a rotina de trabalho de vocês?
Daisy: Nós organizamos o trabalho da seguinte forma: a Letícia geralmente fica com a parte das pesquisas, e eu com os desenhos. Mas não é uma regra... Isso se mistura. Gostamos de usar esse método para o trabalho fluir melhor.
Let: Nós temos uma boa sintonia, e esse método resulta em um trabalho legal, mas acontece de fazermos a mesma coisa juntas, para contextualizar melhor, ou de ter que voltar atrás em algum momento do trabalho. E quando é necessário, a gente para, dá uma volta, toma um café, vamos a uma exposição... Na verdade, a "cara" do piquenique tem fases. No momento, estamos tentando resgatar o trabalho manual, mais orgânico, com aulas de pintura em aquarela. Mas também adoramos o trabalho tipográfico, o estudo da fonte, estilo barroco ou uma pegada mais popular... Tudo depende do que estamos vivendo no momento e claro,do cliente. Precisamos ser dinâmicas!

Onde vocês costumam ver exposições aqui?
Daisy: 
Sempre tem no Museu da República, no CCBB, Espaço Cultural da Caixa... A gente sempre conhece gente nova, e aproveita pra ficar por dentro do que está rolando...

TBS: De onde mais tiram referências para os trabalhos?
Daisy: De muitas coisas... Livros, internet, a rua... A gente acaba pegando um pouco de tudo. E das viagens! Sempre que viajamos, voltamos com outro olhar...
Letícia: Viajar realmente é muito bom, por que trazemos muita coisa, mas a melhor parte é estar de volta ao lar. Quando fomos à Europa, vimos muita coisa e conhecemos vários estúdios de design, que serviram inclusive de start para o Piquenique. Voltar com muita informação é sempre muito bom. Seja numa viagem pelo Brasil ou fora... Mas também estamos viciadas no Pinterest. É uma forma de conhecer um pouquinho do mundo de cada pessoa...
Daisy: A convivência com arquitetas também está sendo uma experiência muito bacana, e está nos trazendo muita referência do design de interiores. É algo que sempre gostamos. Quando fomos à Milão, conhecemos o salão(de Design de Milão)... Essa vivência acaba nos influenciando...
Letícia: A moda também! Tem muita gente que nos inspira no mundo da moda.
Daisy: A natureza... Meu marido é biólogo e sempre traz outro olhar sobre coisas que deixamos passar "batido". É tão incrível... Observando uma ave ou uma flor, você consegue extrair uma cartela de cores maravilhosa...
Letícia: E a nossa própria cidade. A gente sempre tenta mostrar uma visão diferente de Brasília, além dos concursos públicos e da política. A gente acredita em Brasília! Temos muita gente boa e talentosa, na cidade, que ainda não tem notoriedade...

Como vocês veem o mercado do design em Brasília?
Daisy:
 Eu acho que está melhorando. Como dissemos antes, nós acreditamos em nossa cidade, e aos poucos, os bons profissionais estão sendo mais valorizados.
Leti: Os grandes eventos que estão por vir também trarão os olhos do mundo para a nossa cidade, e isso vai aumentar bastante a visibilidade do nosso trabalho. Sem dúvidas!

Qual a importância das manifestações artísticas no cenário urbano, como o grafite, a arte de rua e os mosaicos?
Daisy: Agora você falou do que a gente gosta!
Leticia: Brasilia ainda está engatinhando em relação a manifestações artísticas nas rua. Todos nós estamos vivenciando e contribuindo para o nascimente de uma cultura local, afinal, a cidade é muito nova.
Daisy: No aniversário de Brasília teve um projeto especial sobre grafite, quando fizemos pesquisas e conhecemos o Ramón Martins, que mora atualmente em São Paulo, os Gêmeos e vários outros. Nós temos no site do Piquenique um espaço reservado só para mostrar esse tipo de interferência urbana, chamado "Arte por todo canto", onde mostramos tanto os grafites locais quanto os que registramos nas viagens. São Paulo é uma das cidades que tem mais grafites no mundo, e já existem roteiros turísticos voltados para as pessoas que tem interesse em conhecê-los. Nós fizemos este roteiro em uma viagem e ficamos surpresas com tanta coisa bonita.
Letícia: O grafite está deixando de ser apenas arte de rua, e hoje, tem seu lugar na moda, no design de interiores... Quando estudamos história da arte, percebemos que o ser humano sempre sentiu a necessidade de se expressar, desde as pinturas nas cavernas. O grafite começou como um manifesto, mas hoje alcançou status de arte e deve ser cuidado como tal. É necessário que haja uma manutenção regular, pois é um presente para a cidade.
Daisy: É a expressão artística que estamos vivendo no presente, e futuramente, vai ser considerado um movimento artístico, assim como hoje vemos o renascentismo ou o modernismo, por exemplo...

TBS: Quem é referência em design pra vocês?
Piquenique Design: Rico Lins, Alejandro Magalhães, Andy Wahrol, Athos Bulcão, Roberto Burle Marx; ele é muito completo, fazia de tudo: escultura, pintura, tapeçaria... Os Gêmeos, Camila do Rosário, Cesar Villela, tem muita gente
legal, cada uma em uma área diferente...

Daisy, à esquerda, e Letícia. Acima, um pouco mais do Piquenique
Como vocês enxergam a parceria Moda Vs. Design, tão comum hoje em dia?
Daisy: Acho que eles são amigos (risos). O processo criativo é muito parecido em ambos.
Letícia: Um agrega valor ao outro, e eles se complementam, sem haver uma hierarquia. Uma roupa é uma peça de arte, onde há todo um cuidado, desde o início da concepção da peça, assim como uma peça ou objeto de design...
Daisy: Aqui em Brasília, há muitos casos em que as marcas nascem sem uma identidade visual, e quando os estilistas/donos percebem a importância do design gráfico para imprimir a marca na memória dos clientes, é um pouco tarde, aí temos que entrar no meio do processo... Seria muito bom se as pessoas tivessem consciência da importância desta parceria. Mas algumas pessoas realmente não sabem, apenas por falta de conhecimento.
Leti: Nossa parceria com a Fernanda Ferrugem mostra isso: ela sentiu a necessidade de ter uma fan page, de ter a logo dos parceiros no dia do desfile... Ela aprende com a gente, e nós aprendemos com ela. Esta parceria é muito proveitosa!

TBS: Como surgiu a parceria com a Ferrugem?
Daisy: Nós éramos clientes. Durante uma conversa, ela descobriu o nosso trabalho, gostou, e nos convidou para fazer o convite da coleção (Yummi, em 2010). Depois disso, já fizemos etiquetas, imagens promocionais...

Vocês trabalham com alguma outra marca aqui em Brasília?
Não, por enquanto não.

Qual a marca ou estilista favoritos de vocês?
Daisy: Pode ser vários? (risos). Herchcovitch, Têca, Neon, Ronaldo Fraga...
Letícia: Nós gostamos muito do Ronaldo Fraga pelas histórias que ele conta por trás da coleção. A gente o segue no instagram. Tem também o Pedro Lourenço, a Isabella Capeto, Chris Barros, Osklen -o Oscar trabalha o conceito da marca e da roupa muito bem!-, Chanel, McQueen, Louis Vuitton... Marc Jacobs faz um trabalho incrível! Nós vimos um vídeo sobre o processo criativo do trabalho que é feito com os manequins nas vitrines e ficamos apaixonados, e o Karl Lagerfield soube captar muito bem a essência da Chanel, respeitando a história da marca.

TBS: Vocês citaram a Neon, e ela trabalha muito a estamparia. Vocês gostam de estampas?
Letícia: Eu estou usando bastante ultimamente, mas geralmente sou mais clean... A Daisy usa bastante, e sabe combinar muito bem. (Ela estava usando no dia uma pantalona xadrez com um top estampado)
Daisy: Se eu pudesse, usaria estampa por cima de estampa todos os dias, como na Missoni, que também está na lista de nossas marcas preferidas.

TBS: Profissionalmente falando, como vocês veem a ascensão das redes sociais?
Letícia: Nós não levantamos a bandeira, mas  é importante ter acesso a tudo isso. Já vi casos de exposições que foram planejadas totalmente através de redes sociais; Isso te possibilita conhecer pessoas que podem vir a ser ótimos parceiros...
Daisy: Para nossos clientes, sempre recomendamos a criação e personalização de perfis corporativos, até mesmo para que eles tenham feedback de seus clientes. Tudo isso agrega interatividade e facilita a aproximação entre as pessoas e a marca.

TBS: Vocês leem blogs de moda?
Daisy: Com certeza!
Letícia: De moda, design, tudo... (risos)
Daisy: A gente começa em um blog, e daqui a pouco estamos com uma coleção de abas abertas.
Letícia: Eu adoro uma banca de revistas! Os blogs trazem a informação de forma mais rápida, sem que você tenha que esperar um mês para a revista chegar na banca, mas a linguagem é diferente. Eu gosto bastante de comprar e guardar a revista.
Daisy: Adoramos blogs de moda, passamos muito tempo vendo. Como um todo, nós vemos com bons olhos!

Veja a seguir, imagens dos trabalhos mais recentes da dupla, e o vídeo que foi exibido na abertura do desfile da Ferrugem na última edição do Capital Fashion Week, que mostra um pouco do processo criativo de Daisy e Letícia:



Piquenique Design & Fernanda Ferrugem from Piquenique Design on Vimeo.

Para finalizar, gostaria de deixar meu agradecimento à Daisy e Letícia, por terem me recebido tão bem para esse bate-papo tão divertido e inteligente, parabenizá-las pelo excelente trabalho que desempenham, e convidar todos vocês a conhecerem um pouco mais sobre o Piquenique, através do site ou da fan page.
Espero que tenham gostado do post, e em breve voltamos com mais Bate-Papo, mostrando o que há de melhor em nossa cidade, afinal ter estilo não é apenas vestir o que estar na moda!



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